Thursday, July 31, 2014

Cristo, o espanhol e o português

O Cristo espanhol está sempre no seu papel trágico: nunca desce da cruz, onde cadavérico estende os braços e alonga as pernas cobertas de sangue; o Cristo português anda por vales e montanhas, brincando com a gente do povo, ri e merenda com ela e, de vez em quando, para desempenhar o seu papel, sobe uns momentos para a cruz.

M. de Unamuno, 1908
Portugal, visto por um português

Em Portugal chegou-se a este princípio de filosofia desesperada - o suicídio é um recurso nobre, uma espécie de redenção moral. Neste malfadado país, tudo o que é nobre suicida-se; tudo o que é canalha triunfa. 

Chegámos a isto, amigo. Eis a nossa desgraça. Desgraça de todos nós, porque todos a sentimos pesar sobre nós, sobre o nosso espírito, sobre a nossa alma desolada e triste, como uma atmosfera de pesadelo, depressiva e má. O nosso mal é uma espécie de cansaço moral, de tédio moral, o cansaço e o tédio de todos os que se fartaram - de crer.

A Europa despreza-nos; a Europa civilizada ignora-nos; a Europa medíocre, burguesa prática e egoísta, detesta-nos, como se detesta gente sem vergonha, sobretudo... sem dinheiro. Apesar disso, em Portugal ainda há muita nobreza moral, ainda há pelo menos nobreza moral bastante para morrer, e ainda existem coisas dignas de simpatia.

Diz V. que tudo aquilo que se tem passado e está passando em Portugal é o desarrollo duma espécie de tumor social. Será, será. Será a morte até. Há quem diga que o tumor é apenas um abcesso que, depois de supurar, nos permitirá viver ainda largos dias de desafogo e bem-estar. (Ainda há também optimistas em Portugal.) 

Eu, por mim, não sei, não sei; em boa verdade, amigo, não sei para onde vamos. Sei que vamos mal. Para onde? Para onde nos levarem os maus ventos do destino. Para onde? Vamos...

Manuel Laranjeira, Carta a M. Unamuno, 1908
(M. Laranjeira suicidou-se alguns anos depois)
Portugal, visto por um espanhol

Quando me encontro em Espanha com algum espanhol jeremíaco, pessimista, aportuguesado, que se compraz em pesar e exagerar os males da pátria em em fechar os olhos ao evidente e enorme progresso dos últimos anos, digo-lhe sempre: vá passar uma temporada a Portugal. (...)


E, não obstante, que matéria-prima para um povo aqui existe! Que vitalidade a esta gente! E que prolíferos, santo Deus! Como se hoje a sua principal exportação fosse a exportação de homens, de gado humano, como um deles afirmou.
M. de Unamuno, 1908

Sunday, July 13, 2014

Justiça e cavaleiros andantes

Os que têm o dever profissional de lutar pela justiça são os juízes, os governantes e os pastores. Desgraçadamente, a época moderna transformou os juízes em máquinas, os governantes em economistas e os soldados em militares; e padecemos de uma grande escassez de cavaleiros andantes.

Cavaleiros andantes são os que têm, mais que o dever profissional, a paixão, a mania e o vício da justiça. Esta disposição natural deveria coincidir com o dever profissional. De facto, hoje em dia ambos andam, às vezes, separados.

Assim como deveriam ser ordenados sacerdotes os que têm carismas, assim deveriam ser nomeados juízes os que têm quixotismo.

L. Castellani, Los papeles de Benjamin Benavides, p.353, Buenos Aires, 1953

Sunday, July 6, 2014

Silêncio




Considering the many challenges life has to offer, entertaining yourself with your own thoughts for a few minutes seems like one of the easier hurdles to overcome. You could recall your favorite childhood memory, plan your weekend, or try to solve a problem from work. But it turns out that people find this assignment incredibly hard. And, according to new research, they’ll even resort to giving themselves electric shocks to keep themselves entertained.


There are key strategies of indirect attack that the enemy of our souls uses to significantly disrupt our spiritual progress. (...) There is another indirect attack that wreaks havoc on the soul’s ability grow in intimacy with God — noise. In our culture, noise is everywhere. Day after day, our peace is invaded by television screens at gas pumps screaming ads and programming at us, music in stores, and thousands of television, internet and radio encounters that pump this poison into our souls. 
(...) Maybe it is time to choose to face the silence, even if it means a bit of spiritual surgery. I have never met anyone who has taken this challenge and has regretted it.
We must be still to know that God is, and to find the healing and fulfillment that can only come through a living relationship with him. Ironically, it is when we are surrounded by silence that we can hear the most.

The Devil’s War on Silence: http://www.ncregister.com/blog/dan-burke/the-devils-war-on-silence