O (Bom) Pastor
O pastor deve saber guardar silêncio com discrição e falar com oportunidade, de modo que nem diga o que deve calar nem cale o que deve dizer. Porque assim como a palavra indiscreta leva ao erro, também o silêncio imprudente confirma no erro os que deviam ser ensinados. Muitas vezes os pastores incompetentes, pelo temor de perder a estima dos homens, não se atrevem a dizer livremente a verdade; e deste modo, segundo a palavra da Verdade, não atendem à guarda do rebanho com o zelo de verdadeiros pastores, mas comportam‑se como mercenários: fogem ao vir o lobo, refugiando‑se no silêncio. Por isso o Senhor os repreende por meio do Profeta: São cães mudos, incapazes de ladrar.
Dizer de um pastor que teve medo de dizer a verdade, que é senão dizer que voltou as costas ao inimigo com o seu silêncio? Na sagrada Escritura dá‑se por vezes o nome de profetas aos doutores que, denunciando a instabilidade das coisas presentes, anunciam as realidades futuras. Aqueles a quem a palavra divina acusa de proclamar coisas falsas são os que temem denunciar a culpa dos pecadores e os lisongeiam com falsas seguranças; não revelam aos culpados uma palavra de repreensão e assim lhes ocultam a sua iniquidade.
Ora a repreensão é a chave com que se abre ou revela aos pecadores a sua culpa: com a repreensão abre‑se‑lhes a consciência para verem a sua iniquidade, que muitas vezes é ignorada pelo próprio que a cometeu. Por isso diz São Paulo que o bispo deve ser capaz de exortar na sã doutrina e de refutar os que falam contra ela.
Ora aquele que recebe o sacerdócio assume esta missão de arauto, para ir proclamando em alta voz a vinda do rigoroso juiz que se aproxima. Mas se o sacerdote não cumpre o ministério da pregação, que voz se pode esperar desse arauto mudo?
S. Gregório Magno, Regra Pastoral, Lib. 2,4
No comments:
Post a Comment